28 janeiro, 2007

Entrevista com Hermila Guedes

Entrevista publicada no jornal Destak, de São Paulo, em 29/1/2007:

Hermila Guedes tem 26 anos, gosta de dormir, se diz chorona, tem vergonha de ainda morar com a mãe, curte Nação Zumbi, videoquê, escreve poemas que só mostra aos amigos e tem um perfil no Orkut.

Olhando assim, Hermila Guedes poderia se passar por uma jovem como milhões de outras, mas a atriz, pernambucana de Cabrobó, é a nova revelação do cinema brasileiro. No ano passado, estrelou O Céu de Suely, segundo longa de Karim Aïnouz, e, no fim do ano, viveu a cantora Elis Regina no especial Por Toda a Minha Vida, da TV Globo.

Na conversa a seguir, a atriz, "estrangeira em sua própria casa", fala sobre sua relação conflituosa com a Hermila das telas, diz sentir-se invadida pelo público ("no sentido bom") e envergonhada de assistir às cenas de sexo que fez em O Céu de Suely. Bem-humorada, ela fala ainda sobre carreira, cinema, internet, videoquê...

Eu: Você estava na Paraíba, quando te liguei na semana passada, né?

Ela: É, eu estava na Paraíba, para a pré-estréia do filme lá...

Contando com essa vez, você já viu o filme quantas vezes?

Já assisti umas oito vezes. Todo o dia eu vejo o filme diferente, vejo coisas diferentes. É bem bacana assisti-lo, porque só agora eu estou completamente distanciada daquela personagem.

Você ainda se identifica com a Hermila/Suely?

Ainda sim, mas agora consigo ver uma pessoa e viver outra. No começo era difícil. Era conflituoso...

Você ainda se emociona com o filme?

Sempre. Sempre choro. Sou chorona, choro até sem querer. Mas admiro a Hermila mais do que nunca...

O que mais te emociona? O filme em si ou a reação das pessoas, o fato de seu trabalho talvez influenciar vidas, pontos de vista. Ou ainda, aquele sentimento de “consegui”!...?

Eu acho que o conjunto, mas o que pega mesmo é que sou meio chorona. E as cenas de choro, principalmente, são muito reais. Pelo fato de lembrar dos bastidores, de como foi feito. É tudo junto.

Você já o viu com várias audiências. Como foi quando você viu o filme pela primeira vez, em Veneza?

A primeira vez que você vê nunca é... [pausa] Bom, fiquei emocionada de estar em Veneza, naquela Festival e ver o filme pela primeira vez. Mas eu não vi o filme, né, eu vi a Hermila. Eu não conseguia ainda me dissociar da personagem. Eu me via ali, entendeu. Via outras coisas, menos o filme. Só agora é que comecei a ver o filme, um outro filme.

Você ficava preocupada com o que as pessoas iriam pensar?

A primeira vez eu pensava: “Como as pessoas vão receber esse filme?” Eu perguntei para um colega da direção de arte se as pessoas iriam vaiar. Ele disse: “acho que não, as pessoas aqui são educadas” [risos].

Você disse em outras entrevistas que começou a carreira de atriz como brincadeira, como foi isso?

Eu tenho dois vizinhos, e eles faziam teatro. Um deles namorava o filho de um ator. Eles montam uma peça todos os anos, e até hoje eles montam essa mesma peça. Eu tinha 16 anos.

A gente ficou ensaiando durante um ano. Um deles foi fazer um curta e estava recrutando meninas para fazer um filme. Eles contataram os dois meninos do grupo e eu para fazer um teste para esse curta. Fiz o teste e passei no curta, e foi o meu primeiro. Aí eu ganhei prêmios no Festival de Fortaleza e tal... Daí eu pensei: “Bom, agora vou ter um monte de trabalho”, mas não foi bem assim. Eu tinha muitas dúvidas quanto ao que eu queria. No fundo, eu tive muita sorte...

E como você se sente sendo reconhecida por seu trabalho?

Eu saí do filme sabendo que havia feito um trabalho muito bonito, um bom trabalho. Sabia que iria ser visto. E não sabia que ia dar essa repercussão. Acho muito bacana, mas não esperava isso tudo na minha vida, sabe. O medo já passou, mas ainda me assusto às vezes, sinto um certo estranhamento. Me sinto um pouco invadida. Não no aspecto ruim. Mas no sentido bom de ser invadida [risos]. Ninguém mais pede licença, as pessoas já te conhecem. É tipo isso...

Você se sente invadida pelo assédio da imprensa? Este meu assédio, por exemplo, te incomoda?

É complicado. Porque eu sempre achava que tinha de estar pronta para responder a todas as perguntas. E eu fico e ficava muito nervosa. Em Veneza, por exemplo, dei várias mancadas, eu pensava “Caraca, não consigo fazer isso não, quero voltar.”

Que mancadas, por exemplo?

Eu não conseguia responder às perguntas. As pessoas perguntavam sobre o filme e eu não me lembrava do filme. Eu pensava “Caraca, não lembro. O que eu vou dizer para esse cara?”

E o assédio dos fãs?

Nas ruas as pessoas me conhecem por causa da Elis Regina [Hermila interpretou a cantora na mini-série Por Toda Minha Vida, da TV Globo]. Mas fiquei super feliz porque no Rio duas pessoas me reconheceram pelo Céu de Suely. No Carnaval aqui de Recife, que já começou, vieram falar comigo. E são pessoas que eu nunca vi na vida. Que de repente nem gostam de cinema, mas me conhecem pelo papel da Elis...

E como foi interpretar a Elis na TV?

Para mim, para falar a verdade, não gostei muito do que fiz, não. Acho que a Elis merecia mais. Eu tive pouco tempo para estudá-la, para fazer um trabalho mais elaborado... Foi o meu primeiro na televisão, interpretando uma mulher que eu amo. Era a Elis Regina, uma mulher que se dava, se entregava de alma, era rica. O ator que pega uma mulher daquelas e tem tempo para fazê-la, arrasa. Acho que pela falta de tempo que tive, não fui muito feliz. Foi muito bacana, mas foi o que saiu.

No Céu de Suely você teve mais tempo, teve uma preparação intensa com a Fátima Toledo, se envolveu mais com a personagem, para a qual emprestou seu próprio nome. Como foi construir a Hermila/Suely? A tensão que você sentiu foi mais física ou emocional?

As duas coisas. Eu tenho um problema no joelho. Uma inflamação, um afastamento de rótula com o fêmur, nos dois joelhos. E ele não agüenta muito impacto. E eu não conseguia fazer tudo o que a Fátima pedia. Meu limite era a dor. No trabalho de Fátima, a gente trabalha muito de joelho dobrado, de cócoras. Doía muito.

De cócoras?

É [risos]. Ela trabalha muito com dor física, com exaustão física, para te deixar mais vulnerável. A gente fica mais à flor da pele, mais sensível. Daí ela parte para o psicológico, em busca de memórias afetivas para emprestar à personagem.

Isso fica muito presente no filme

Muito, e você passa um bom tempo impregnado com esse processo. Uns três meses depois, eu tive de fazer uma dublagem [uma voz em off, na verdade] para o texto de abertura do filme, e comecei a chorar desesperadamente. Até hoje ela não saiu de mim, não...

Essa coisa de ser uma estrangeira na própria terra... Você sente isso? Como a sua personagem?

Totalmente. Até na minha casa eu me sinto meio estranha no ninho...

Deslocada?

É, deslocada... Eu acho que tenho de me achar dentro de mim, primeiro.... Não é questão do lugar onde moro. Não é lugar que vai mudar a gente...

Mesmo assim, você pensa em vir pra São Paulo, para o Rio?

No começo eu tinha um pouco de medo de ira praí. Agora pode ser que eu tenha mais coragem, depois de O Céu de Suely [risos], que me ensinou tanto... Tô brincando... Eu entrava em pânico de pensar em ter de morar em outro lugar e tal. Hoje eu penso no assunto com mais carinho. Mas ainda não me deu essa vontade, esse ímpeto, sabe, de “preciso ir embora porque esse lugar está me sufocando”... Não, eu gosto de Recife [pausa]... Na verdade na verdade, eu adoro Recife. Aqui estão meus amigos, minha família, as pessoas de que gosto, lugares que gosto. Não preciso de muita coisa não...

Eu liguei para sua casa e sua mãe atendeu. Você mora com seus pais?

Eu moro com minha mãe, com minha irmã e com dois sobrinhos. Daqui a pouco eu estou com 30 anos e dá vergonha ficar na casa da mãe [risos]. Eu estou pensando em morar sozinha...

Você está com 25?

Eu estou com 26, fiz em novembro...

Você tem namorado?

Ai me Deus.... [risos]... Não vou falar muito sobre isso, porque da última vez, quando fiz a entrevista com a Marília Gabriela, contei a história de um namorado e já estou com outro. Daí saiu em uma revista que estava com um namorado e já estou com outro... Então é melhor não falar [risos].

O seu namorado é um fã seu?

É, ele se diz fã... A gente se conheceu por causa de O Céu de Suely, ele me viu no filme. Normalmente eu estou namorando, nunca estou solteira.

E como foi filmar com o Cláudio Assis [para o Baixio das Bestas]?

Eu ainda não vi o filme, mas deve ser a cara de Cláudio Assis, né? Aquela coisa ame ou odeie.

Você ama ou odeia?

[Risos] Eu gosto dele. Na verdade, eu sempre tive o maior preconceito, assim, por ele. Achava ele muito porra louca, largadão, louco, e tal. Nas festas ele estava sempre bêbado e o caramba... Mas ele sempre foi muito fofo comigo... Ele nunca me fez mal, foi sempre tranqüilo comigo.

Eu o conheci no Festival de Cinema do Recife, ele não estava embriagado, estava bem tranqüilo. Conversamos e pensei “nossa, que pessoa linda”. Conversamos por horas. Ele é um bruto com uma alma linda, que se defende assim, entendeu? Aí eu comecei a admirá-lo mais, e ele me chamou para o filme. O bom diretor tem de seduzir o ator. Ele seduz o ator, da maneira dele, escrachadão, sem papas na língua. Ele chega e diz: “A cena vai ser assim, você vai trepar fulano, trepar sicrano...”

Falando em trepar, você se considera tímida?

Pessoalmente eu sou tímida, mas no meu trabalho me entrego de alma. Como não tenho técnica, o cinema me dá chances de viver várias coisas, sensações... Acho que só vale à pena fazer cinema se for para se afogar.

Foi tranqüilo fazer cenas de sexo?

Foi tranqüilo para fazer, o problema foi assistir [gargalhadas]... Ver é mais difícil. Ainda bem que as pessoas em geral nem tocam no assunto... [risos]. Ou quando tocam é daquele jeito super profissional, falam do aspecto técnico, da interpretação... Ainda bem que as pessoas não chegam tirando onda da minha cara...

Mas você fica tímida com você mesma ou com as pessoas que estão do seu lado no cinema?

Com as pessoas que estão comigo. É que a cena é muito forte. E a intimidade ali é real, não é de mentira. A gente namorou durante as filmagens, eu e João Miguel. Há uma intimidade ali muito exposta...

Que tipo de som você ouve?

Eu adoro as bandas daqui, pernambucanas. Mas eu sou muito preguiçosa para procurar coisas, baixar músicas... Gosto da mistura, sabe. Não gosto, por exemplo, só de música eletrônica. Gosto quando tem uma batida meio africana, uma batida cubana. Tipo Chico Science, Maracatu. Adoro vocal feminino também. Zélia Duncan, Adriana Calcanhoto, Elis Regina, Vanessa da Mata.

E você gosta do seu vocal feminino?

[Risos] Ai, eu adoro cantar... Sempre pensei em cantar. Adoro videokê. Adoro... Tem umas coisas que eu compus. Estou pensando em chamar um amigo que toca violão, para musicar. Eu escrevo algumas coisas...

Você escreve? Escreve poesias, por exemplo?

Eu escrevo algumas coisas, mas nem mostro pra ninguém. Mais para os meus amigos.

E quais filmes você gosta de ver, fora o seu?

Tem um que eu assisti, que adorei. É lindo, chama-se I Don´t Want To Sleep Alone. Do Tsai Ming-Lang. Nem sei se estou pronunciando certo. Você conhece ?

Sim, ele fez o Sabor da Melancia, o Rio... Os filmes dele lembram o clima de O Céu de Suely, não?

É, o Karim ama. Estávamos eu, o Karim e o Marcelo Gomes na sessão. Saímos em transe do filme. Foi um absurdo, um orgasmo, maravilhoso. Saímos pisando em outro lugar... Você também não sente isso?

Claro, os filmes dele mexem muito comigo também...

Então você sabe como é...

Você usa muito a internet?

Não. Eu geralmente entro para ficar no máximo cinco minutos... Vejo meus emails, entro no meu orkut... [risos]

Você tem Orkut?

É tenho... [risos]

Mas é um perfil fake ou é como Hermila Guedes mesmo?

Não, eu tirei o meu nome porque tinha um cara me pentelhando no orkut... Ele não só me pentelhava mas se intrometia em tudo que tinha relação com a minha vida. Enchia a minha prima, meus amigos, sabe? Ela fuçava tudo... Aí eu desisti do nome e coloquei outro.

Você tem blog?

Não, não tenho...

Nunca pensou em escrever um?

Já pensei em fazer isso, mas sou muito preguiçosa... Começo as coisas e deixo tudo pela metade, começo, fico empolgada e logo enjôo, não termino... Que nem o Orkut, me empolguei no começo mas nem entro mais, estou sempre offline do msn...

23 outubro, 2006

Volver, de Pedro Almodóvar



letra
"Minha mãe me concebeu nesta cama. O corpo de minha avó foi velado aqui."
Augustina (Blanca Portillo), em Volver

visão
Em um pequeno povoado na Espanha, deitada sobre a mesma cama em que foi concebida e sobre a qual morreu sua avó, Augustina (Blanca Portillo) agoniza e tenta vencer o câncer. Ao lembrar que nela nasceu e nela velou a mãe de sua mãe, sugere que ali também irão velar seu corpo. Sobre o móvel, de madeira escura e semblante grave, pesam a vida de três mulheres.

reflexão
Objetos são trágicos porque ficam. Não morrem quando morremos. Nossa vida dura menos que a máquina fotográfica. A agenda, o relógio, a cama sobre a qual dormimos, um par de tênis. Todos eles testemunham, mais do que a maioria das pessoas, nossa passagem. Comprovam materialmente que vivemos e amamos. Meus óculos enxergam a minha história, não são um mero filtro. Não fossem eles, minhas memórias não teriam rosto e meus sonhos seriam vultos. Sem eles nunca poderia dizer: "Ontem, sonhei com você". Apenas "hoje sonhei vultos". Gostaria de ser enterrado com eles. Meus olhos míopes podem ir para outro, mas não meus óculos, sãos.

confissão
O primeiro objeto que ornou minha filha foi um lacinho rosa de cetim. Ele tinha um esparadrapo no verso e foi colado na penugem que envolvia a cabeça dela, logo depois que tomou seu primeiro banho. Eu dei este primeiro banho. Lorena tinha poucos segundos quando, ao secá-la, uma enfermeira grudou a fitinha: "Rosa, para menina".

Guardei o primeiro objeto de Lorena na carteira, para carregá-lo comigo pela vida. Não pensei, ao fazer esta escolha, na minha imutável distração, como se o nascimento dela tivesse corrigido meus defeitos. Perdi a carteira em uma feira de livros, procurei-a por toda a parte, sem sucesso. O que seria para a vida inteira, durou dois anos. Chorei então e ainda choro toda vez que penso nisso.

21 setembro, 2006

Sob o Efeito da Água, de Rowan Woods


som

"People you´ve been before, that you don´t want around anymore"
Beteween the Bars, Madeleine Peyroux

visão

Uma ex-viciada em heroína, Tracy (Cate Blanchett), passou os últimos quatro anos se recuperando do vício e tenta levar uma vida normal, trabalhando como gerente de uma videolocadora em um bairro chinês em Sidney. Ela sonha comprar o negócio e ascender socialmente.

Tracy quer melhorar sua vida, recuperar-se definitivamente do vício e do tempo que perdeu alienada do convívio familiar e social. Ela dedica sua energia profissional a uma atividade que exerce com o entusiasmo possível a um trabalho pouco interessante. O que a motiva é a possibilidade de tornar-se sócia do lugar onde trabalha. Para isso, alimenta o sonho e tenta conseguir um empréstimo bancário. Todas as tentativas, porém, esbarram em seu rótulo de "ex-viciada" e em suas dívidas anteriores, as quais está tentando pagar.

reflexão

Apesar de sua dedicação e boa vontade, a luta de Tracy em busca da transcendência, da evolução, esbarra na escassez financeira e no seu passado. A impossibilidade de o ser-humano transformar sua vida, com seus próprios recursos e força de vontade, encontra aqui um porém. Nem sempre, numa sociedade dominada pela indiferença, é possível mudar. Nos chamarão, para sempre, de ex-viciados, ex-analfabetos, suicidas frustrados, depressivos em tratamento, ex-casados, excomungados. Estamos sem esperança?

Já a tive, algum dia?

confissão

Zé, como chamavam o Eduardo, ex-arquiteto e ex-interno no hospício onde me tratei, era um louco inquieto. Quando não estava fazendo seu nescafé com a água quente da mangueirinha do chuveiro, tratava a velha mesa de pingue-pongue como uma obra de arte em restauração. Pediu lixas, verniz e tinta à família: queria restaurá-la, vê-la brilhando e lisa. Quando ela ficou pronta, do jeito que havia imaginado, depois de três dias cuidando pessoalmente de seu restauro, chamou a todos para inaugurá-la.

Mas ninguém queria jogar pingue-pongue com o Eduardo.

05 setembro, 2006

Amantes Constantes, de Philippe Garrel


letra

"There is nothing like dream to create the future. Utopia today, flesh and blood tomorrow"
Victor Hugo

visão

Um grupo de estudantes franceses participa das revoltas do Maio de 1968, em Paris. Depois da repressão policial e da perda das ilusões de um possível levante socialista, os jovens se entregam ao ópio. Desse grupo, o jovem poeta François (Louis Garrel, o mesmo de Os Sonhadores) começa um relacionamento com a escultora Lylie (Clotilde Hesme).

reflexão

Como viver com o fim das ilusões e a anestesia que acompanha a perda do ideal? Pior do que desiludir-se pela crueza da realidade, é desistir de iludir-se. Vive-se, assim, uma vida cuja dose insuportável de realismo é ocasionalmente tolerada com o efeito sedativo e inebriante do ópio, ou qualquer outra "fuga" oportuna e necessária. O anestésico ameniza as dores de uma vida já cauterizada pela falta de perspectiva real de prosperidade ou de transcendência (sem sonhos nem utopias). Extinta a fonte do ópio, dessa única fonte de prazer possível, e extinto o círculo íntimo de amigos, que saíram do original e fundaram outros, a morte é uma solução plausível e atraente.


confissão

Deitado, sozinho no escuro, sobre um colchão que não era mais meu, chorei. L. e P. viajaram para Brasília e nunca mais entrariam comigo naquele cômodo, repleto de memórias e risos encaixotados. Na manhã seguinte, o caminhão de mudanças chegaria com seus braços e pernas. Hoje, estranhos dormem sob o céu que construí para elas.