05 setembro, 2006

Amantes Constantes, de Philippe Garrel


letra

"There is nothing like dream to create the future. Utopia today, flesh and blood tomorrow"
Victor Hugo

visão

Um grupo de estudantes franceses participa das revoltas do Maio de 1968, em Paris. Depois da repressão policial e da perda das ilusões de um possível levante socialista, os jovens se entregam ao ópio. Desse grupo, o jovem poeta François (Louis Garrel, o mesmo de Os Sonhadores) começa um relacionamento com a escultora Lylie (Clotilde Hesme).

reflexão

Como viver com o fim das ilusões e a anestesia que acompanha a perda do ideal? Pior do que desiludir-se pela crueza da realidade, é desistir de iludir-se. Vive-se, assim, uma vida cuja dose insuportável de realismo é ocasionalmente tolerada com o efeito sedativo e inebriante do ópio, ou qualquer outra "fuga" oportuna e necessária. O anestésico ameniza as dores de uma vida já cauterizada pela falta de perspectiva real de prosperidade ou de transcendência (sem sonhos nem utopias). Extinta a fonte do ópio, dessa única fonte de prazer possível, e extinto o círculo íntimo de amigos, que saíram do original e fundaram outros, a morte é uma solução plausível e atraente.


confissão

Deitado, sozinho no escuro, sobre um colchão que não era mais meu, chorei. L. e P. viajaram para Brasília e nunca mais entrariam comigo naquele cômodo, repleto de memórias e risos encaixotados. Na manhã seguinte, o caminhão de mudanças chegaria com seus braços e pernas. Hoje, estranhos dormem sob o céu que construí para elas.